Franciscos, Afonso e a moral que nasce do Presépio

(Foto foto: Papa Francesco in visita al santuario francescano di Greccio)

O tempo cronológico faz o seu trabalho e, mais uma vez, um ano se aproxima do seu fim. No âmbito do simbólico, para experimentar aquela outra qualidade de tempo que extrapola o mero passar dos minutos indo à dimensão da graça, aprendemos a celebrar a abertura e o fechamento de ciclos povoando a linearidade temporal de “estações” carregadas de sentimento e sentido.

O Eterno Divino, irrompendo e rompendo a monotonia temporal da humanidade, estabelece a estação-símbolo maior, lugar/tempo de fala e de encontro: a Encarnação do Verbo. Natal, nascimento, é assim que aprendemos a chamar este acontecimento; presépio, é deste modo que a arte-orante traduziu a simplicidade-complexa deste evento.

Algumas semanas atrás, Papa Francisco, na breve Carta Apostólica Admirabile Signum, dada à publicação em Greccio, no Santuário do Presépio no dia 01 de dezembro, recorda e contempla a proposta de outro Francisco, aquele que séculos atrás, naquele mesmo lugar, começou a tradição de assim representar a Encarnação.

Francisco, o atual, recorda o presépio como uma forma singular de experiência da proximidade de Deus. Tal proximidade que irrompe na pretensa estabilidade humana portando a novidade de uma vida plena e fraterna. «…Jesus é a novidade em meio a um mundo velho, e veio a salvar e reconstruir, a recolocar a nossa vida e o mundo em seu esplendor originário» (AS, 4). O encontro com o Verbo Eterno que se esvazia na direção da simplicidade e falibilidade da história humana evidencia o lugar da humanidade no projeto de Amor do Pai, relativizando as pretenções de poder dominador e excludente de uma sociedade caduca.

«O nascimento de uma criança suscita alegria e estupor, porque coloca diante ao grande mistério da vida». (AS, 8). Um mistério, geralmente banalizado nos dias atuais regidos pelos jogos do “ter”, mas que deve ser palavra constante a ser sempre recordada e custodiada. Nos olhos do pequeno, de todos os pequenos, brilha a possibilidade da novidade que desmonta os jogos dos “grandes”. Acredito que foi este brilho de novidade que tanto encantou Santo Afonso Maria de Ligório.

No século XVIII, este grande homem ensinou o povo simples a se ajoelhar e contemplar o presépio. O presépio de Afonso não terminava no nascimento da criança, mas abria caminho para a doação da cruz e a sacramental presença do Eterno em meio a nós. Nos olhos do nascituro brilhavam o Amor incondicional de um Deus que se faz humano e disposto às últimas consequências para resgatar o que se fez perdido no caminho.

É interessante como os olhares dos Franciscos e de Afonso se cruzam no mesmo ponto, na mesma “Estação da Vida”. A história humana não pode mais seguir em sua monótona sina de jogos de exclusão. A fraternidade, uma moral do encontro, se estabelece a partir da manjedoura. A criança na manjedoura, o homem crucificado, o eterno presente sacramentado chora com a morte injusta de todo ser humano, se sente excluído com a exclusão dos irmãos, mas também se alegra com a comunhão e se rejubila com o humano que se reencontra. Da manjedoura ecoa a “palavra-símbolo” maior da proximidade e da unidade entre Deus, a humanidade e o mundo.

p. Maikel Dalbem, CSsR

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