Necropolítica 1/3: Como surgiu o termo?

(Fonte . Amazon_it)

 

O contexto de pandemia que já estamos vivendo a quase dois anos, trouxe à discussão o interessante conceito de “necropolítica”, de formulação muito anterior ao surgimento do vírus SARS-COVID-19, evidenciado pelas posturas de alguns governos e instituições financeiras na gestão da crise humanitária criada.

Notamos a ampla difusão do termo em diversos artigos de jornais e discussões populares, mas que na maioria das vezes não dão conta da profundidade da reflexão contida em sua formulação. Sendo um argumento que tem ganhado importância nas discussões de âmbito moral social, propomos assim uma série de três artigos onde, sinteticamente, traremos algumas informações sobre o autor que cunhou o conceito, seu conteúdo e sua evolução a partir do conceito de “biopoder” proposto pelo pensador Michel Foucault.

O termo necropolítica foi proposto pelo filósofo camaronês Achile Mbembe. Nascido em 1957, atualmente é professor de História e Ciências políticas na Universidade de Witwatersrand em Johanesburgo, África do Sul, bem como pesquisador no Wits Institute for Social and Economics Research. Anteriormente, durante sua fase norte-americana, foi professor nas Universidades da Califórnia, Columbia e Yale.

Seu país natal, Camarões, situado na parte ocidental da África Central, foi dividido logo após a Primeira Guerra Mundial entre a França e o Reino Unido, tornando-se colônia das então duas das grandes potências mundiais. Mbembe nasce justamente no momento quente das disputas entre a sociedade civil e os governos coloniais que levarão, já nos primeiros anos da década de 60, à unificação e à formação do Estado de Camarões independente nos moldes políticos de república.

Será a partir deste lugar existencial que o autor se empenhará no estudo do pós-colonialismo na África, bem como das marcas que a história colonialista deixou no processo de independência daquelas nações, dos fenômenos de ditadura e da criação do imaginário político naquela região.

O conceito de necropolítica vem inspirado neste contexto, tendo sua primeira aparição em artigo de 2006[1], buscando caracterizar os efeitos e as inter-relações contidos no conjunto de práticas de caráter político-social atuadas por diversas instituições, estatais e civis, na manipulação do direito à vida e do acesso às suas condições básicas. No próximo artigo, buscaremos sintetizar os elementos básicos que caracterizam a necropolítica, além de evidenciar sua ampla aplicação.

p. Maikel Dalbem, CSsR

 

[1] Mbembe A., «Traversées, diasporas, modernité», in Raison Politiches 21 (2006) 29-60.

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